Ritual indígena de MT é declarado patrimônio cultural brasileiro
(Foto: Vincent Carelli/Vídeo nas Aldeias/Divulgação)
O
Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural definiu no dia 05/11/2010
que o sistema agrícola tradicional do Rio Negro, no Amazonas, e o
ritual yaokwa dos índios enawenê nawê, de Mato Grosso, sejam
considerados patrimônios culturais brasileiros. A decisão faz com que
ambos esses bens imateriais passem a ser protegidos pelo Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
A
comissão que avalia os processos de tombamento (no caso de patrimônios
materiais) e de registro (para os imateriais) é formada por 22
conselheiros de diversas áreas, como cultura, turismo, arquitetura e
arqueologia, e trabalham em diferentes instituições como Ministério do
Turismo, Instituto dos Arquitetos do Brasil, Sociedade de Arqueologia
Brasileira, Ministério da Educação, Sociedade Brasileira de Antropologia
e Instituto Brasileiro de Museus.
"As ações que serão realizadas para salvaguardar esses bens são uma
etapa que vem depois do reconhecimento. Há propostas, mas ainda não
foram formalizadas", explica Luciana Luz, técnica do departamento do
Patrimônio imaterial do Iphan. Segundo a especialista, a cada 10 anos é
feita uma reavaliação para decidir se o patrimônio segue no registro ou
deixa de ser um patrimônio cultural.
O
Yaokwa é a mais longa e importante celebração realizada por esse povo
indígena que vive em uma área de 742 mil hectares, homologada e
registrada, localizada numa região de transição entre o cerrado e a
floresta Amazônica, Juruena (MT).O calendário ecológico-ritual Enawene
abrange as estações seca e chuvosa de um ciclo anual marcado pela
realização de mais três rituais: Lerohi, Salomã e Kateokõ. . O ritual
dura sete meses. Uma parte importante do yaokwa consiste na pesca de
barragem, feita com estruturas construídas de uma margem à outra do rio.
Os
homens saem para a pesca de barragem, construídas com sofisticadas
armações que se configuram em elaboradas obras de engenharia, dispostas
de uma margem à outra do rio. Este é o ponto alto do ritual que começa
em janeiro, com a coleta das matérias-primas para a construção das
barragens e com a colheita da mandioca.
Hoje
os Enawene Nawe têm enfrentado constantes ameaças que os cercam, como
madeireiros e garimpeiros, mas principalmente os impactos ambientais
causados pela construção de pequenas centrais hidroelétricas que, embora
se localizem fora da terra indígena, vêm sendo construídas em locais
próximos às cabeceiras dos rios. Em reuniões internas articulam
estratégias e tomam decisões frente às pressões que se intensificam.
De
acordo com o Iphan, a rápida transformação na paisagem promove nos
Enawene Nawe o sentimento de ameaça a seus eixos de referência no manejo
ecológico e territorial e privam as gerações futuras de vivenciar as
atividades tradicionais. Isso poderia gerar o colapso do seu sistema de
vida e da sua estrutura social.
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