1968: quando o mundo amava a revolução |
O P I N I Ã O
* Reginaldo Benedito Dias O mais famoso movimento daquele ano localizou-se na França, de onde vem o mito de "maio de 1968". O movimento francês, protagonizado pelos estudantes, atingiu os sindicatos de trabalhadores e provocou uma greve geral de grande impacto. Não era, no entanto, um movimento revolucionário clássico, dotado de uma estratégia de conquista do poder. A dimensão mais emblemática do movimento era a recusa da alienação promovida pela sociedade capitalista avançada, reproduzida pelo sistema universitário. Segundo a professora Olgária Matos, o movimento "criticou a sociedade do espetáculo, a ética do consumo, o urbanismo da alienação em nome da lógica do mercado, da indústria, da ciência e da técnica despoetizadoras".
No Brasil, os movimentos de 1968 lutaram contra a ditadura militar instituída em abril de 1964, que derrotou os movimentos democráticos por reformas que vicejam no início da década e instalou um regime de exceção que foi regra por cerca de vinte anos. De certa forma, o ano de 1968 começou com o assassinato do estudante Edson Luis, promovido pelas forças repressivas, e terminou com a edição do Ato Institucional nº 5. Nesse intervalo, houve ascensão de lutas de massas, como as passeatas estudantis e as greves operárias de Osasco e Contagem. Foi um ano de grande inventividade, com expressões culturais densas, como o movimento Tropicália. Também havia a articulação de uma esquerda revolucionária, que aspirava a desencadear a luta armada contra a ditadura militar. Em Maringá, aliás, tivemos esses processos em miniatura. Nas faculdades que precederam a UEM, houve estudantes que aderiram aos grupos revolucionários. Em outubro de 1968, houve um ensaio de greve geral de trabalhadores, promovido pelo agrupamento Ação Popular, que mobilizou as atenções da cidade. Ainda em outubro, estudantes secundaristas realizaram grande manifestação política, em agenda do governador Paulo Pimentel. Tanto quanto nas canções citadas no início, as manifestações daquele período, como se apresentavam nos quatro cantos do mundo, eram heterogêneas e traduziam, com diferença de sentido, a palavra "revolução". Na sintonia da contracultura, os Beatles cantavam a liberação das mentes e dos corações. Vandré desdenhava dos movimentos que empunhavam flores contra canhões. O certo é que grassava um sentimento de inconformismo com os modelos dominantes de sociedade e suas formas de opressão e alienação. Em alguns lugares, recusava-se a sociedade de consumo; em outros, o socialismo burocrático; no Brasil, combatia-se a ditadura militar. Sem saudosismo, estudar aquela época é muito estimulante. Além da importância dos movimentos em si mesmos, pode-se captar aquela centelha de inconformismo e de esperança para refletir sobre as lutas e os sonhos de nosso tempo. * Doutor em História Política, professor do Departamento de História Fonte: http://www.informativo.uem.br/novo/index.php?option=com_content&view=article&id=1636%3A1968-quando-o-mundo-amava-a-revolu&catid=91%3Ainformativo-824&Itemid=39 |
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